2012-10-06

Lembrar

Se como de ti me lembro,
De ti me esquecesse,
A cada letra de música,
A cada imagem com brilho!
Se de mim te arrancasse,
Como em mim te enraízas,
A cada foto, cada memória,
Em cada pedaço de Passado!
Nada faria o mesmo sentido,
Mas saberia infinitamente melhor!
Porque o doce que de ti lembro,
Faz do hoje um Presente amargo.

2011-09-14

Escravo Livre

Nos espaços que me sobram
Esqueço as palavras ditas por demais,
As frases menos compridas que a verdade,
E os murmúrios zangados.

Desaprendi a deixar-me levar
Por todas as tuas artes e artimanhas.
E levei-me só pelas manhãs
Que seguiam os passos errados da noite anterior.

Deixei de ceder à ditadura
Do que chamávamos nosso
E passei a ditar o que chamaria meu
E de que desse meu, faria parte o teu.

Não soei sempre igual
Nem premi sem cessar a tecla
Que escreve certo por linhas tortas.
Errei repetidamente as vezes que queria acertar.

Alforriei-me de ti, é certo!
A Liberdade não surtiu maior efeito
Que escravizar-me á incoerente
Vontade de rasgar a alforria!

Abre-me o teu livro!

Poderás, um dia, revelar-te?

Deixares que te conheça, que te encontre?

Se o fizeres, ler-te-ei,

Como que uma última página

Falte, apenas, para o final!


Ávido, ainda assim, não terei força

Para acelerar a leitura, que, nas tuas páginas cerradas,

Se adivinha lenta, pouco clara,

Inundada de entrelinhas, que não poderei ler

De outra forma que não nos teus próprios lábios!


Não hesito em julgar-te pela capa!

Também ela diz muito do que és.

Pois a forma como nos iludem,

Revela, não raras vezes,

Como nos será exposta a verdade!


Se me leres saberás, que de outra forma

Não me lerás, senão pelas tuas próprias páginas!

Ou não se encontrasse o livro, no preciso local

Em que lhe assentam os olhos do leitor,

Que a si próprio, procura!

2011-08-31

Poema mudo

Foram mais curiosos os gestos, que as palavras!
E daí não surgiram as respostas,
Porque sobraram as dúvidas e os medos.
Ao fecho das janelas, não se seguiu o abrir das portas
E assim nos cruzamos, sós,
Num espaço que não pedimos e desconhecemos.
Na mudez mais elucidativa, no que não foi dito
Se disse tudo o era esperado ouvir-se,
Uma vez mais, assim, sem palavras, sem o que nos falta dizer!

2010-04-13

O único esquecimento possível entre nós!

Não lembro, ainda
Em que madrugada nebulosa
Te conheci
Em que hora distraída
Te fiz parte de mim.
Ou de que matéria se realizou
O laço que nos uniu.
Sei que perdi, nesse incontável momento
A parte de mim que é, agora, tua!
E que por ti foi substituída.
Desde então a estrada
Não se constrói sem a tua marca.
Desde daí
A vida se corrói do que vives também.
És uma das pedras basilares
De que é feita a minha alma.
Sobra-lhe espaço estrutural, ainda,
Mas nunca o teu,
Esse está cimentado no que sou em ti
Em troca do que és em mim.

2009-04-02

Em que altura deixamos a “Idade do Porquês”?

Foi no passado dia catorze que dei por mim a acompanhar uma amiga até à primeira reunião do futuro grupo de voluntários da Greenpeace da região Norte. A Organização internacional está, de facto, a gerar esforços para que a sua presença em território nacional se estenda para além do já existente e mobilizador núcleo de voluntários da região de Lisboa. Vai daí, convoca os seus voluntários virtuais da região do Porto para um primeiro encontro no Fórum da Juventude da Maia.
Estive presente, um pouco por arrasto, mas estive, num momento que se revelou produtivo e inspirador. Inspirador a vários níveis mas um deles prende-se com o facto de ter constatado que o maior número de ocupantes dos lugares disponíveis no fórum fossem jovens com não mais que quinze anos! Ali, com vinte e cinco anos de idade, eu era um dos “cotas”! Perguntei-me, então, se o altruísmo e inconformismo eram características humanas com prazo de validade definido à nascença? Ou então, se depois de certa idade e certas vivências tudo nos parecia já muito sistemático para que o consigamos mudar?!
Até que ponto as nossas forças podem e devem ser canalizadas para objectivos nobres como a sobrevivência do meio em que vivemos e do qual necessitamos, quando a nossa vida se começa a dividir entre o desempenhar de diversos papeis!?
Somos humanos, mais ou menos humanos à medida que envelhecemos!? Seria de esperar que a humanidade crescesse em nós proporcionalmente à idade! Só assim a vida faz sentido, a meu ver!
As questões não se ficaram por aqui porque, se por um lado em número os mais jovens estavam em maioria, desconfio que em consciência a massa presencial pertencesse aos menos jovens. O desejo de aventura e ausência do medo podem ser, de facto, mais evidentes num miúdo de 15 anos. O discernimento para os usar bem talvez nem tanto!?
A proporcionalidade de voluntários Greenpeace em Portugal é bem diminuta quando comparada com outros países Europeus, e isto talvez revele algo quanto ao conformismo do nosso povo, um conformismo no qual me incluo, somos sempre muito revolucionários aos jantares de família, nas mesas dos cafés, a falar do governo, mas sempre tão passivos no momento de agir! Temos facilidade em acreditar que o gesto singular não contribui para o melhoramento geral e entregamo-nos ao fatalismo das massas!
O meu conselho vai no sentido de gerarmos, novamente, a pró-actividade dos nossos quinze anos, aproveitemos a maturidade para ajudar essa força motriz!
Não nos conformemos.
Bem hajam!

P.S.: Se, porventura, desejarem começá-lo através do voluntariado Greenpeace saiba como através do site www.greenpeace.org/portugal

Texto publicado no semanário "Fórum Vale do Sousa", Edição de 19/03/2009

2009-03-18

Aprenda a não ler textos com a palavra “Crise” no título!....

Pergunto se alguma vez terei ouvido tão repetidas vezes a palavra “crise”, até se a terei pronunciado tantas vezes quanto as destas últimas semanas.
Este é um tema da actualidade a que ninguém é indiferente! Alguns serão imunes aos seus nefastos efeitos, outros beneficiarão, até, da onda de instabilidade que esta criou, mas ninguém lhe é indiferente!
Muito embora este nosso país já tenha estado “…de tanga”, ninguém parecia estar preparado para que esta “tanguice” se alastrasse a uma espécie de “praia mundial”, e vai daí, surge no imaginário social internacional um novo “bicho papão”, vulgo “crise económica”!
É verdade! Não faltam bocas a nomeá-la, e a apresentar-lhe soluções!
A dúvida que subsiste é: Seremos capazes de solucionar a crise económica sem solucionar a crise de ideais e valores, sobretudo de mentalidades, que se vem prolongando como prelúdio da crise económica?
Porque verdade seja dita, somos um país que, em tempo de crise (já lá vai mais uma) e salvo raras excepções, se consegue dividir claramente entre “Deslumbrados Dependentes” e “Deslumbrados Oportunistas”!
Não é difícil enumerar o sem número de “dependentes” do rendimento mínimo de inserção social, que não raras vezes roçam, também, a classificação de oportunistas, muitas vezes presos a um sistema que lhes dá o “peixe” para não perder tempo a ensiná-los a “pescar”. Caso para dizer que é uma “pescadinha de rabo na boca”!
Também os há, dependentes de créditos facilitados, pessoas que incentivaram a economia nacional através de um consumo que lhes destruiu a economia pessoal! Hoje são esses os mesmos que se vêm espezinhados pelas mesmas entidades cujo crescimento fomentaram, e cujas dificuldades financeiras solucionam enquanto contribuintes! Serão talvez putativos requerentes de um qualquer subsídio de sobrevivência nos próximos meses?!
Crescente é, também a lista de dependentes do Instituto de Emprego e Formação Profissional, um outro organismo farto em incompetência, se por um lado é mais resistente em dar o “peixe”, suspeito que nunca poderá ensinar a “pescar”, por incapacidade própria.
Deixemo-nos, entretanto, de enumerar os dependentes, pois os oportunistas estariam a perder uma bela oportunidade de se propagandearem.
São, de igual forma, facilmente reconhecíveis e passam por políticos no governo, que acharam a perfeita desculpa para os seus deslizes, como por uma oposição que encontra matéria farta para a sua arte de bem “matraquear”!
Não nos poderíamos esquecer das entidades patronais, que se não se livram ou exploram os funcionários em nome da crise, a servem bem fria em jeito de cessação e falência! Estranho que esses mesmos sejam os compradores dos únicos bens de consumo que registam aumentos de vendas, os de luxo! Oportunista fraco seria aquele que não aproveitasse as “Novas Oportunidades”, que para quem não sabe, e milhares são, já, os que se aperceberam, são uma espécie de maquilhagem estatística que credita pessoas não qualificadas, na sua maioria com o único propósito de adquirirem um computador ao preço da chuva, com o preço de arranjarem um escravo que lhes forneça os trabalhos que servirão de base à sua formação!
Como vêm, é este país e esta mentalidade que vê a crise passar!
Pergunto-me se, na esperança que passe, enquanto comemos todo este peixe dado, não veremos as canas serem levadas por quem nos distrai com o peixe, e em vez de uma crise de passagem tenhamos uma residente!
Para quando uma mente social nova, para uma vida social nova!?
Sou, contudo, um optimista convicto, e acredito que o jejum, quer afecto à época religiosa actual quer por demanda do crescente apertar de cinto imposto, vá trazer alguma clarividência a estas mentes pensadoras!
Se a fé move montanhas, tenhamos fé que faça mexer estes pedregulhos!No início, eu avisei…

Texto publicado no semanário "Fórum Vale do Sousa", Edição de 12/03/2009