2007-04-02

Nu Escuro!

Saídas nocturnas!!!!
Que serão elas afinal? Uma forma de descontracção; um vício; uma característica social; uma subversão económica?
Numa normalíssima, embora não muito habitual, saída com os amigos deparei-me com uma série de factores que me deixaram a pensar sobre o que representariam, de facto, estas incursões nocturnas pelos vários bares à disposição de qualquer jovem, em quase todas as zonas do país!
O certo é que esta reflexão me levou a mais dúvidas que esclarecimentos!
Ponderei a hipótese mais obvia, a que me havia motivado a saída:
Encontro com os amigos!
Certo que os encontrei, cumprimentei-os a todos, senti uma satisfação enorme em revê-los, mas a páginas tantas, tomei consciência de que me encontrava no meio de um emaranhado de deficiências comunicativas, e que embora estivéssemos juntos, muito pouco poderia, ali, evoluir na nossa relação! No meio de um barulho ensurdecedor os diálogos são dispêndios de energia preciosa para quem pretende ainda relacionar-se com a pista de dança, dai que todos eles não passem de aglomerados de vocábulos cuja incompreensão se preencha facilmente com um sorriso!
Não poderia ser este argumento tão pouco fundamentado, o móbil da saída nocturna!!!
Seguidamente ponderei uma segunda opção:
O Engate!
Este é sem sombra de dúvida um dos mais citados interesses do mundo noctívago! Procuremos então suporte factual para o célebre intento.
Á entrada surge-nos uma imagem de gente bem disposta e descontraída, muito embora, sempre atenta a quem entra e sai!
Tendo em consideração o objectivo que nos propomos analisar, seria de esperar que dali a nada, este desejo de confraternização diluísse as barreiras entre os grupos já formados e os que se vão formando à medida que mais pessoas chegam, mas não é o que acontece! Na verdade regem-se quase todos pela mesma regra, o seu a seu grupo, não se travam conhecimentos, trocam-se olhares mas não cumprimentos e até na loucura da pista sobrelotada as circunferências fazem adivinhar os grupos rivais na conquista pelo espaço de dança!
Pois é! Tamanha passividade perante a hipótese de se encontrar ali companhia para a noite ou para a vida não corrobora o argumento do “engate”!
Restam-nos ainda algumas possibilidades:
Apanhar a “piela”! (embebedar-se)
Temos de admitir que este é, talvez, dos mais fundamentados mobilizadores de saídas nocturnas, já que noite sem o amigo a falar à “presidente da junta” é como o pai natal, simplesmente não existe ou é campanha publicitária!
Mas como os indivíduos sujeitos a este apelo são, teimo em acreditar, uma minoria……avancemos para outras hipóteses!
Diversão!?
Certo! O conceito de diversão é muito relativo de sujeito para sujeito, podem-se divertir até os que seguram os copos nas mãos e as paredes com as costas!
Mas…na enchente, até os que apreciam dançar se envolvem mais em conquistas infrutíferas por espaço, que propriamente na diversão em si, para não falar dos que desesperam por um cm cúbico de ar não poluído ou um metro quadrado de pavimento não pegajoso!
E… … …Ooops!
Parece findas as opções, e então a resposta à minha pergunta?
O que motiva as saídas nocturnas?
Na verdade depois desta reflexão tornam-se ainda mais sábias as palavras do Pedo-Psicólogo que ouvi, há dias atrás no “Jornal da Noite” referir que estas saídas constituem o grito mais íntimo dos jovens da nossa e vindouras gerações; que este contexto ensurdecedor e anestesiante parece ser a tela perfeita para explanar tudo o que não seríamos capazes de exprimir num jantar íntimo, numa sala silenciosa de uma biblioteca, numa conversa demasiado exposta com os amigos. No barulho a verdade pode ser mostrada sem ferir ou atordoar os mais susceptíveis! Talvez ali quem tem algo a dizer o diga mais liberto porque o difunda no resto, e quem nada tem a acrescentar o possa fazer sem que o vazio tenha peso, talvez ali a falta de assunto seja menos constrangedora e a voz a falhar de nervosismo pareça mais colocada, ali somos nós, mas cómodamente "pardos"!