2007-10-03

Nas Frisas da Cultura! (Publicado no Fórum Vale do Sousa de 03-05-2007)



Parece-me claro!
Nós, povo português, precisamos de incrementar a nossa percepção e sensibilidade culturais! Uma tarefa nada fácil, tendo em conta que na categoria “Produtos dispendiosos de última necessidade”, os diversos canais de cultura são, aos olhos das carteiras portuguesas, grandes pesos pesados!
Um veículo cultural, seja ele um livro, um CD, uma sessão de cinema, ou uma peça de teatro atingem preços que podem sugerir a Cultura como um privilégio de elites!
Será realmente assim?
Talvez não tanto, a cultura está bem mais acessível do que aquilo que pensamos, iniciativas como “Verões Culturais” nas autarquias por esse país fora, levam várias formas de cultura e arte aos portugueses, feiras do livro promovem saldos na cultura, acessíveis à maior parte dos interessados e até as difamadas ilegalidades, que suprimem os direitos de autor, se revelam piratarias democratizadoras de cultura!
Mas nem isto parece ser suficiente, tudo porque existe, sim, uma Cultura bem latente na nossa sociedade ocidental, a cultura da imagem!
Uma imagem é sem sombra de dúvida uma mais valia, uma peça com um actor conhecido da televisão transforma um coliseu às moscas numa sala plenamente composta de público, embora se notem bem as diferenças entre ocupantes de balcão popular e orquestra central! É o capital a exercer suas barreiras! Isto, como exemplo de que em nome de uma imagem se podem bem cometer certos sacrifícios económicos!
Parece fácil para a maior parte das pessoas a escolha entre uma peça ligeira com os vultos dos “Morangos com açúcar”, ao preço de quinze euros por pessoa, e uma obra de Shakespeare interpretada por uma companhia de teatro amador, …embora bem menos, pela módica quantia de dois euros. Ganha a imagem mesmo que desprovida de talento!
Contudo, notoriedade nunca é sinónimo de falta de qualidade e se a imagem for um meio de atracção das populações à Cultura, façam-se todos as apostas possíveis nesse sentido, mas nunca nada agrada a gregos e troianos, por isso, nós, público, somos o principal factor de escolha!
Porque o certo é que as discrepâncias existem na acessibilidade à cultura mas ninguém parece querer aproveitar as oportunidades para as esbater.
Uma questão de educação?! Talvez tenhamos de aprender a filtrar o essencial do acessório, até lá continuaremos nas frisas (balcões laterais das salas de teatro, com visibilidade reduzida para o palco) a olhar de lado a cultura nacional!